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domingo, 23 de janeiro de 2011

Educação para consumo consciente e sustentabilidade ambiental





O projeto piloto do Programa "Educação para o Consumo Consciente e Sustentabilidade Ambiental", desenvolvido pelo Instituto Akatu com apoio da HP, parceiro pioneiro do Instituto, começou em 3 de outubro. Nesse dia, em quatro escolas de diferentes regiões brasileiras - em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Belo Horizonte (Minas Gerais), Cuiabá (Mato Grosso) e Natal (Rio Grande do Norte) -, foram iniciadas as atividades de formação de professores. Na quinta escola participante, em Boa Vista (Roraima), as atividades foram postergadas por conta de uma greve na escola. O programa conta com o apoio das respectivas Secretarias de Educação Estaduais, que indicaram as escolas participantes do projeto piloto.

O programa é fruto da campanha "Escolha Consciente HP", uma parceria da HP Brasil com o Instituto Akatu, firmada no primeiro semestre de 2008. A campanha focada na venda de impressoras informava o consumidor que, para cada produto vendido, a HP faria uma doação ao Akatu para o desenvolvimento do programa de educação de jovens do ensino fundamental em escolas públicas. O foco do programa são estudantes do Ensino Fundamental II, fase em que os alunos começam a formação de valores individuais e práticas mais autônomas de consumo. Nesta primeira fase, cerca de 120 educadores de 15 escolas estaduais, sendo três em cada região do país, passarão pelo programa de formação de professores. No próximo ano, eles replicarão o conhecimento a mais de 2 mil alunos.
"O Akatu reconhece na escola um espaço importante para a formação de pessoas", afirma Camila Melo, coordenadora pelo Akatu do programa de Educação para o Consumo Consciente e a Sustentabilidade Ambiental. "Valorizamos o papel do educador e acreditamos que a inserção do consumo consciente no sistema de ensino público é uma forma de incorporar o tema na formação de crianças e jovens brasileiros." De acordo com Camila, o Akatu pretende, com o projeto, trocar experiências e compartilhar com os educadores novas percepções e formas de introdução dos temas em sala de aula, contribuindo assim para uma mudança de comportamento dos professores e alunos envolvidos em direção à sustentabilidade da vida no planeta.
Os três modelos de formação
A fase piloto do programa tem o objetivo de testar três modelos de formação de professores: presencial, semipresencial e ensino à distância. Independentemente do modelo, todos os professores poderão se conectar à plataforma online, onde encontrarão informações complementares e poderão trocar suas experiências no desenvolvimento de atividades junto aos alunos. Além de desenvolver o programa e preparar os professores, o Instituto Akatu acompanhará os resultados das atividades em sala de aula e sistematizará as aprendizagens visando identificar as necessidades de alterações para a futura expansão do projeto a outras escolas e outras regiões do país. Nesta primeira etapa, estão participando as escolas que testarão o modelo presencial. O teste dos modelos semipresencial e à distância estão previstos para começar nas próximas semanas.
A formação de professores está baseada na construção de um Projeto Temático na escola. O consumo consciente e a sustentabilidade ambiental são os temas transversais, que poderão ser reeditados pelos professores em suas diversas áreas de conhecimento e ensino. Os professores poderão desenvolver com os alunos as competências e habilidades sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), visando formar cidadãos cada vez mais capazes de interferir criticamente na realidade para transformá-la. Os Parâmetros Curriculares Nacionais são referenciais elaborados pelo Governo Federal em 1996, e são voltados, sobretudo, para a estruturação e reestruturação dos currículos escolares de todo o Brasil.
Com base nos PCNs e nas metodologias já utilizadas em outros projetos, o Akatu desenvolveu um livro para os alunos, chamado Trilha do Consumo Consciente - suas escolhas transformam o mundo. Com linguagem jovem e ilustrações atraentes, o livro do aluno e o material de apoio entregue ao professor servirão para o desenvolvimento do Projeto Temático que a escola iniciará após a formação dos professores, conduzida pelo Akatu, e cujo término está previsto para novembro deste ano.
Dentro e fora da sala de aula
No livro Trilha do Consumo Consciente, temas relevantes são tratados sempre de forma criativa e sob a ótica do consumo consciente. O livro pode ser usado tanto em sala de aula como fora dela. Muitas escolas optaram por deixar os livros na biblioteca, para atingir ainda mais alunos. O material de apoio à formação do professor é fonte de inspiração sobre os temas tratados no livro do aluno, de maneira aprofundada e mais reflexiva. Contém sugestões de atividades para a sala de aula e referências bibliográficas, entre outros instrumentos, de modo a facilitar o trabalho do professor.
"A Educação é uma semente, quando pega raiz, só frutifica". A frase foi pronunciada por Ana Costa, que leciona matemática há 20 anos na rede pública de ensino de Belo Horizonte (MG), no primeiro dia das atividades de formação de professores na Escola Manoel Soares do Couto. De um modo geral, as professoras da escola que participaram da formação já possuem prática de trabalhos em grupo, conhecem os PCNs e entendem a importância de trabalhar com projetos. "Amamos os PCN's. Quando trabalhamos com projetos, palavras grandes são traduzidas para os alunos e eles nem percebem o quanto estão aprendendo", afirma Vânia Gomes da Silva, professora de Artes, há quatro anos na escola.
Para Edna Borges, consultora certificada pelo Akatu que integra o projeto como facilitadora na formação de professores, o maior desafio na escola de Belo Horizonte é ajudar as professoras a "irem além": "Elas têm experiências anteriores com projetos temáticos, mas isoladamente, em suas disciplinas. O que desejamos e acreditamos é que elas irão conseguir realizar um trabalho em equipe. Juntas, irão desenvolver um projeto onde trabalharão o consumo consciente e a sustentabilidade como temas transversais", afirma Edna.
Para Maria Orávia de Almeida Araujo, técnica do setor de educação ambiental da Secretaria de Educação de Minas Gerais, muitas vezes os professores passam por cursos e, quando retornam para a escola, nada muda. "Todo aquele conhecimento que ele adquire se perde. Os professores recebem muito conteúdo, mas sem um direcionamento do que fazer com tudo aquilo". Segundo ela, "este projeto é de extrema importância para os professores da rede pública estadual pela continuidade proposta".
Maria Orávia afirma que, normalmente, algumas disciplinas ficam descobertas quando se fala na temática ambiental. "Mas, o que posso ver é que, com esse material e com o projeto que o Akatu está desenvolvendo, os professores poderão realizar um ótimo projeto temático sobre Consumo Consciente em todas as disciplinas". Além disso, as escolas terão o amparo dos facilitadores do Instituto Akatu e uma avaliação, prevista para ser realizada no final de 2010.
Erika Fischer, também consultora certificada pelo Akatu, atuou como uma das facilitadoras na formação dos professores na Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Sylvio Torres, em Porto Alegre. "Nossa experiência foi excelente", afirma Erika. "Os conteúdos foram bem modificados, ao sabor de muita intuição coletiva e capacidade de adaptação", conta. Todos os facilitadores do Akatu trabalharam da mesma maneira - estudaram a realidade das escolas para poderem se adaptar às diferentes situações, próprias das diferentes realidades das escolas pelo Brasil afora.
Dos alunos para os pais
Na fase piloto do projeto, é muito provável que o conhecimento e a reflexão sobre consumo consciente e sustentabilidade cheguem a outras pessoas além dos cerca de 2000 alunos previstos. De acordo com as professoras da escola de Belo Horizonte, o conteúdo trabalhado em sala de aula, com os alunos, geralmente chega até os pais.
Segundo elas, os pais aprendem com os alunos e transmitem esse conhecimento a outros pais, que, por sua vez, o repassam a outros pais. Assim, esses conteúdos acabam sendo disseminados a várias outras pessoas. Elas também acreditam que cada funcionário da escola, professor ou não, é um educador. Por isso, as professoras decidiram multiplicar as experiências para os funcionários que tiverem interesse em participar.
Tem razão a professora Ana Costa - a Educação é uma semente que, quando "pega raiz, só frutifica".


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